CHIII

VÂNIA DANTAS LEITE

por Alexandre Fenerich & Daniel Puig

Vânia Dantas Leite (1945-2018) é das compositoras pioneiras, com Marlene Fernandes e Jocy de Oliveira, na utilização consistente da linguagem e do instrumental eletroacústico no Brasil. Pianista e cravista de formação, levaria a pesquisa no sintetizador AKS a um grau de sofisticação que só uma compositora intérprete poderia atingir. Explorou ao máximo seu potencial já nos anos 70, como em Vita Vitae (1974, grupo de câmara, vozes e sons sintetizados), na qual os sons gravados do sintetizador convivem com sua performance ao vivo. Em

A-jur-amô (1975, sons sintetizados gravados e voz ao vivo), cuja escritura é estrita, atua ao AKS com espantosa precisão. Já em duas obras posteriores, Karysma (1985, oboé e sons sintetizados gravados) e Di-Stances (1996, sons sintetizados gravados), o material eletrônico se assemelha em arabescos, filigramas e serículos acústicos de muita vivacidade. Nessas e outras obras, um aspecto é notável: Vânia é uma compositora que busca colaboração. Vita Vitae é criada na relação com quatro poemas da escritora feminista Olga Savary. Karysma foi realizada a partir de improvisações do oboísta Ricardo Rodrigues. Di-Stances foi inspirada pelo artista Paulo Garcez em desenhos “lidos” como partituras. Destaca-se ainda sua co-criação em videos, com Anna Maria Maiolino, Simone Michelin e Valéria Costa Pinto, levando à prática que define como música-vídeo em seu doutorado. Com cerca de 50 trabalhos, a obra de Vânia Dantas Leite, seminal para a música de concertos no Brasil, parece apontar para temas que se tornariam relevantes décadas mais tarde. Revelam sua inventividade e curiosidade, a mesma presente no uso do AKS e na atenção que dedicava aos detalhes de cada obra. Como professora na Unirio (1981-2012), formou gerações com espírito sensível a seu tempo. Os trabalhos apresentados aqui são testemunha de sua técnica sólida e estilo questionador e aberto ao diálogo colaborativo.​

Alexandre Fenerich & Daniel Puig​

Alexandre Fenerich – pesquisador de conteúdo e coordenador do projeto “Coleção de Música Eletroacústica e Experimental Carioca” (Faperj – Unirio)

Caros amigos do CHIII,

A série de emissões radiofônicas que vocês irão ouvir em seguida foi ao ar no “Eletroacústicas” na Rádio MEC FM do Rio de Janeiro numa produção conjunta com a Escola de Música da UFRJ para celebrar a trajetória da grande compositora de música eletroacústica Vania Dantas Leite (1945-2018), de quem fui aluno no Instituto Villa-Lobos da Unirio nos anos 1980. A série conta com depoimentos da compositora e de diversos colegas, parceiros e admiradores de Vania. Espero que vocês curtam!

Rodrigo Cicchelli (produtor e apresentador do “Eletroacústicas” e professor titular da Escola de Música da UFRJ)


Vânia era uma profissional muito séria e competente, uma das pioneiras da arte eletroacústica no Brasil. Foi tranquilo trabalhar com ela. Tinha total confiança nas suas criações. Nos entendemos muito bem. Tínhamos uma amizade antiga e que frutificou dando bons resultados para nós duas. ​

Valéria Costa Pinto

Vânia Dantas Leite era brilhante e muito divertida. Compositora extremamente profissional, com uma curiosidade que a impulsionava em busca de novas relações da música contemporânea com as artes visuais. Nossa colaboração foi fácil e produtiva. Sua elegância e vigor, modulados pela sutileza de seu espírito, transparecem em seu legado artístico.

Simone Michelin

Muito poderia escrever sobre Vânia e nossa convivência desde da década de 70, mas não sei se seria suficiente para reconstruir esta rica memória que convive comigo. Como faz falta sua presença, nossas afinidades, conversas e tanto que compartilhávamos …

Uma amizade inspiradora , uma companheira de tantos anos!

Seu talento, sua invenção, sua inteligência, bom gosto e sensibilidade nos deixou algumas belas e impactantes obras que influenciaram toda uma geração de seus talentosos alunos, aos quais ela se dedicou profundamente. Muitas vezes nossas jornadas seguiram paralelas e ligadas pela afinidade musical, artística, emocional que nos unia. Quantas vezes iniciamos juntas uma pesquisa de um novo programa ou mesmo instrumento eletrônico… quantas viagens (pelo mundo afora) fizemos juntas a festivais, congressos, passeios e compartilhamos alegrias, descobertas, reflexões! Uma amiga artisticamente muito próxima, Vania continua presente na minha memória e muito me emociona escrever sobre ela.

Jocy de Oliveira